quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Memórias de infância (6)

Há cerca de quatro anos atrás, escrevia eu num outro registo, que acabei por eliminar, um texto sobre a minha infância. Precisava de espaço, de arrumar ideias e voltar a mim. Porque eliminei blogue e conta, perdi textos e pessoas neste percurso.
Entretanto voltei, e de coração cheio, encontrei as pessoas e o meu texto que julgava perdido. E é assim com as mesmas palavras, que volto a participar no blogue da Mel. Não venho com intenções de ganhar prémios ou fama. É mesmo só pelo prazer de participar.
"Quando escrevi à Mel a perguntar se ainda ia a tempo de escrever sobre a minha infância, o assunto do texto era Infância fora de prazo. Depois apercebi-me era muito mais que isso. Acho que há uma parte de mim que ficou lá atrás, e digo isto com orgulho. Tem de haver sempre um pouco de criança dentro de nós.
A minha infância foi normal, sem dramas, sem doenças graves, com amor, calma e saudável e com umas galhetas pelo meio. Era muito traquinas e distraída. Depois a minha mãe deixou-se disso, das galhetas, era ela que ia para o quarto chorar e eu ficava muito bem a brincar como se nada tivesse passado. Esquecia-me.
Tivemos (eu e o meu irmão) sempre tudo de acordo com o tamanho da carteira do meu pai. O meu pai ficou sem pai aos seis anos. Era uma forma de se compensar, da infância que não teve.
Tive outra coisa muito importante que não se prende a dinheiro. Valores. Honestidade. Humildade. Carinho. Sinceridade.
A minha mãe ficou em casa a tratar de nós, a brincar às escondidas enquanto o jantar estava no fogão. E olhem que a casa não era grande. Mas quando somos pequenos as coisas parecem maiores.
Quando trovejava dormíamos todos juntos. Não sei quem tinha mais medo. Se ela se nós.
Tinha muito amigos, muitos deles imaginários, tinha outros reais. Os policias da vila por exemplo eram meus amigos. Claro, vivia mesmo por cima do posto da policia. Desenhavam-me bonecas em papel, brincavam comigo e eu não saía de lá.
Uma vez ia sendo raptada por uma cigana. Não podia ver ninguém a comer tomate que dizia logo: "Ohhh, tenho fome.
". E se não fossem os meus amigos reais, hoje já devia ser avó, e andava a vender roupa nas feiras. A cigana já estava a empacotar as coisas para se meter a caminho e achou-me muita graça. E eu, porque não?!? Enquanto houver tomate eu estou bem.
Sempre tive pancadas... uma delas foi embirrar naquele dia que queria leite azul. Há 40 anos atrás não havia corantes. Ou era leite branco ou leite com chocolate. Na minha casa havia sempre Nesquik. Mas naquele dia o leite tinha que ter outra cor. A minha mãe já em desespero dizia que não havia leite azul.. e o meu pai, sempre muito prático, sugeriu " compra-lhe uns óculos"!
Não me lembro de chegaram a comprar.
Os meus pais eram mais uns irmãos mais velhos, que nos limpavam os joelhos e as lágrimas, que estavam ali sempre que precisávamos.
Acho que tudo isto faz de mim aquilo que sou. Estou de bem com a vida. Claro que nesta fase adulta a única coisa que não combina é o meu peso. Mas se tudo fosse perfeito era uma monotonia e eu acabava por me cansar.
Mel, um beijo enorme para ti, para quem te lê, para quem me lê também.
Felicidades, do fundo do (meu) coração :) "

Maria T.
minimalmariae.blogspot.com

3 comentários:

  1. Este texto está muito profundo...♥ gostei muito!! Ainda bem que voltaste Maria e que não nos perdemos de quem nos identificamos e gostamos!! fiquei feliz por te reencontrar!
    O peso é uma luta difícil mas acredito que conseguirás com persistência e ajuda também. bjos grandesssssssssss

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  2. Obrigada Mel :)
    É sempre um prazer voltar aqui :)
    Beijos

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  3. ♥ Eu lembro-me de ler este texto!
    Beijinhos!

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