Divórcio

Sempre esteve presente na minha vida bem de perto, com muitas consequências negativas, mas nunca o perspetivei para mim. Desde que me conheço que me lembro de sonhar e lutar por ter a família que não tive. Por construir um porto de abrigo, um lar saudável e feliz!
Durante muito tempo prescindi de mim e tardiamente acabei por descobrir que sempre tivemos prioridades/ objectivos diferentes. 16 anos juntos é um longo caminho para quem tem apenas 31 anos de vida, talvez por nos termos apegado cedo demais passámos fases e experiências à frente. Entretanto lutei, iludi-me por diversas vezes, tiram-me o chão, levantei-me vezes sem conta, tentei outra vez e mais outra e mais outra. Tiraram-me a solidão sem em troca me darem verdadeira companhia. Achava sempre que era uma fase, que as coisas iriam mudar. No entanto, todos nós temos os nossos limites e devemos respeitá-los em prol da nossa saúde emocional e mental. E foi o que eu fiz. Houve um dia em que cheguei ao meu limite, cansei-me. Um relacionamento duradoiro e feliz faz-se com quatro mãos a puxar e não sempre as mesmas duas. Acreditem que seria mais fácil e confortável continuar do que desistir. Mas continuar significaria insistir no erro, "tapar o sol com a peneira", seria manter uma ligação de fachada e isso nada tem a ver com o meu feitio. Prezo muito determinados valores e sei que nunca devemos abrir mão deles por muito dura que seja a situação ou as consequências. Não me assusta ficar sozinha com uma criança tão pequena nos braços sem familia por perto, digo-vos que não. Não vou dizer que é fácil mas aquilo que mais tem pesado em todo o processo é pensar no crescimento dela e no desistir de um sonho de manter algo que nunca tive.
Sei que agora importa não valorizar demasiado as coisas que correram mal. 
Houve momentos e coisas muito boas, sim, a maior delas a minha filha! E é por ela que não vou guardar rancor nem mágoas do que me fizeram de mal, aliás no meu coração não cabe dessa bagagem. Vou procurar olhar para o pai da minha filha como um amigo, porque também tem coisas boas, porque também vivemos coisas boas e porque acima de tudo é importante para a princesa M tratar-mo-nos bem, com respeito, cordialidade e amizade (espero que isto continue a ser possível). Não vou permitir que a usem seja de que maneira for. Vou fazer de tudo para que minha filha sofra o minimo possivel e que possa crescer feliz, sentindo-se amada e apoiada pelos pais. A mim o que me fez falta não foi ter tido os pais juntos, foi sim não ter tido pais no verdadeiro sentido da palavra.
Neste momento, não me posso dar ao luxo de ficar triste, nem abatida, este ser tão pequenino precisa de mim, precisa da minha estabilidade, do meu equilibrio, da minha alegria e serenidade para viver cada dia da melhor forma. Vou conversando com ela dentro do limite da sua tenra compreensão, mas um dia, contar-lhe-ei tudo,  sim porque a vida nem sempre é cor-de-rosa e há a necessidade de se aprender a transformar o que é mau em bom e livrarmo-nos do que nos impede de ser feliz.
Por agora ainda atravesso a tempestade, mas olho em frente, vivo um dia de cada vez lutando para estar bem.
São necessários encerrar ciclos para dar lugar a novos horizontes e acredito há-de chegar a bonança!

(texto escrito em Abril 2013)