segunda-feira, 8 de julho de 2013

A separação como ato de amor

"É sabida a dor que advém de qualquer separação, ainda mais da separação de duas pessoas que se amaram muito e que acreditaram um dia na eternidade deste sentimento. A dor-de-cotovelo corrói milhares de corações de segunda a domingo — principalmente aos domingos, quando quase nada nos distrai de nós mesmos — e a maioria das lágrimas que escorrem é de saudade e de vont...ade de rebobinar os dias, viver de novo as alegrias perdidas.
Acostumada com esta visão dramática da ruptura, foi com surpresa e encantamento que li uma descrição de separação que veio ao encontro do que penso sobre o assunto, e que é uma avaliação mais confortante, ao menos para aqueles que não se contentam em reprisar comportamentos padrões. Está no livro "Nas tuas mãos", da portuguesa Inês Pedrosa.
"Provavelmente só se separam os que levam a infecção do outro até aos limites da autenticidade, os que têm coragem de se olhar nos olhos e descobrir que o amor de ontem merece mais do que o conforto dos hábitos e o conformismo da complementaridade."
Ela continua:
"A separação pode ser o ato de absoluta e radical união, a ligação para a eternidade de dois seres que um dia se amaram demasiado para poderem amar-se de outra maneira, pequena e mansa, quase vegetal."
Calou fundo em mim esta declaração, porque sempre considerei que a separação de duas pessoas precisa acontecer antes do esfacelamento do amor, antes de se iniciarem as brigas, antes da falta de respeito assumir o comando. É tão difícil a decisão de separar que vamos protelando, protelando, e nesta passagem de tempo se perdem as recordações mais belas e intensas. A mágoa vai ganhando espaço, uma mágoa que nem é pelo outro, mas por si mesmo, a mágoa de se reconhecer covarde. E então as discussões se intensificam e quando a separação vem, não há mais onde se segurar, o casal não tem mais vontade de se ver, de conversar, quer distância absoluta, e aí se configura o desastre: a sensação de que nada valeu. Esquece-se o que houve de bom entre os dois.
Se o que foi bom ainda está fresquinho na memória afetiva, é mais fácil transformar o casamento numa outra relação de amor, numa relação de afastamento parcial, não total. Se os dois percebem que estão caminhando para o fim, mas ainda não chegaram no momento crítico — o de se tornarem insuportavelmente amargos — talvez seja uma boa alternativa terminar antes de um confronto agressivo. Ganha-se tempo para reestruturar a vida e ainda se preserva a amizade e o carinho daquele que foi tão importante. Foi, não. Ainda é.
"Só nós dois sabemos que não se trata de sucesso ou fracasso. Só nós dois sabemos que o que se sente não se trata — e é em nome deste intratável que um dia nos fez estremecer que agora nos separamos. Para lá da dilaceração dos dias, dos livros, discos e filmes que nos coloriram a vida, encontramo-nos agora juntos na violência do sofrimento, na ausência um do outro como já não nos lembrávamos de ter estado em presença. É uma forma de amor inviável, que, por isso mesmo, não tem fim."
É um livro lindo que fala sobre o amor eterno em suas mais variadas formas. Um alento para aqueles — poucos — que respeitam muito mais os sentimentos do que as convenções."

Martha Medeiros
Lygia♥

22 comentários:

  1. Bom Dia!
    (Se era para me fazeres o coração saltar pela boca quase que conseguiste!...estou aqui a ver se o enfio no peito outra vez!!!!)

    Texto Absolutamente Maravilhoso. Se esse dia chegar, peço a Deus que me permita senti-lo, para saber que é o momento.

    Um dia disse assim a MorMeu:
    "Sabes, amo-te tanto, mas tanto, tanto, que no dia em que sentir que a tua felicidade já não é ao meu lado, serei eu a primeira a abrir-te a porta e a deixar-te ir! Compreendes?!"

    jinhossssss minha DOCE!
    Boa Semana:)

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    1. Isso é mesmo o verdadeiro amor!! Desejo que seja eterno! bjinhoooo

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  2. Que texto fantastico! Muita força! Beijinhos

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  3. Que texto fantastico! Muita força! Beijinhos

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  4. Acho que assim é que deve ser. Quando está a terminar é deixar ir. Em nome de outro tipo de amor. E esse livro deve ser muito interessante. ;))

    bjs

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    1. tb fiquei curiosa sobre o livro, tem tudo a ver com a forma como penso.Bjs

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  5. Acredito que amar é queremos sentir a felicidade, mas a ela é impossível se quem está ao nosso lado não estiver também feliz, por isso partirmos ou deixarmos o outro ir é sem dúvida uma demonstração de amor. Não é fácil, mas é pacificador...

    Um abraço do tamanho dos meus braços apertados. :)

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  6. A verdade é que, por vezes, a separação é o melhor para ambos.

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  7. Gostei muito do texto. Bem escrito. Pena que a vida não seja tão linear, sobretudo, no que diz respeito a sentimentos.

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    1. é bem verdade os sentimentos por vezes pregam-nos partidas as esse também é o sabor especial da vida. bjinhos

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  8. Verdadeiras estas palavras. Porque o amor, também, é isto. A felicidade do encontro e da partilha mas também a dor do desencontro e do (ter de) dizer adeus...
    Um beijinho grande querida Mel

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  9. Um texto super profundo!! Adorei linda Mel,desejo-te uma maravilhosa semana,fica com deus!! http://mafaldinhaarte.blogspot.pt

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  10. Já passei por duas separações e apesar de ter ido ao fundo, felizmente fiquei muito mais forte como pessoa, por mais estúpido que pareça o sofrimento faz-nos crescer e encarar a vida de uma outra maneira que até ali não tínhamos ainda reparado...
    Quando existem filhos temos que ser fortes a dobrar tanto por nós como por eles, a minha primeira separação foi há 11 anos e foi muito complicado porque o meu filho mais novo chorava muito à noite e dizia que era por causa dele que nós nos tínhamos separado,quando ouvi semelhante frase engoli as lágrimas e expliquei-lhe tudo bem explicado e felizmente hoje em dia é um homem que acredita no casamento, vai casar dia 10 de Agosto pela igreja, e espero que seja muito feliz :)
    Deixo-te um grande,Enorme beijinhos para ti e para a princesa

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    1. Obrigada Lit@ pelo teu testemunho... continuarei acreditar no amor! bjinho especial

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  11. Querida Mel
    O texto e magnifico, mas cortou-me o coração, porque pensei na tua dor.
    Eu passei por uma fase dificel, talvez a mais dificel na minha vida de casada,não acreditava que fosse possível dar a volta,via tudo mau, já nem os momentos bons eu conseguia ver mais, chorei até não poder mais, cheguei a um ponto que eu achei que era o limite, já estávamos a organizar(se e possível organizar alguma coisa)a nossa vida para nos separarmos.
    O amor estava lá, esteve sempre mas estava tão encoberto pelas coisas más que já nenhum dos dois conseguia ver, já nem o amor que ambos sentamos pela princesa consegui mantermos unidos, batemos mesmo no fundo, perdemos até um pouco o respeito um pelo o outro através de agressões verbais.
    Isto é só um bocadinho do que passamos, para nós foi necessário bater no fundo para acordar.
    Estivemos sempre sozinhos, sofremos em solidão os três, sem falar com ninguém, o meu porto seguro foram vocês, aqui, acho que isso dificultou, porque os pensamentos eram sempre os mesmos dia após dia, sem ter uma opinião ou um conselho de fora.
    Conseguimos dar a volta e hoje estamos mais felizes do que nunca.
    Conseguimos enterrar essa fase má e construir de novo a nossa história de amor, tudo isso só foi possível porque paramos um pouco, enterramos o machado de guerra e demo-nos a possibilidade de reviver e pensar em tudo o que vivemos de bom, no nosso amor, na nossa princesa, perdoamo-nos, demos mutuamente o braço a torcer, passamos a pensar mais com o coração, porque muitas vezes a razão e o coração tem caminhos diferentes.
    Na minha opinião e quando o amor existe, porque se não existir não vale mesmo a pena,vale a pena parar e recomeçar como se estivéssemos a construir uma nova história de vida e de amor.
    Mudar a nossa maneira de pensar e encarar/ver a situação tem muita influencia, passar a ver as coisas pelo lado positivo, porque mesmo as coisas menos boas podem e devem ser encaradas de forma positiva, por vezes sair/tentar olhar para a situação com um estranho também ajuda, a mim ajudou.
    Desejo-te muito força e por favor ouve o teu coração.
    Eu estou aqui, tens o meu email, falar ajuda.
    Desculpa pelo texto longo.
    Beijinhos

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  12. Lamento imenso, lamento muito. Eu acredito que quando ainda há amor é sempre possível recomeçar. Muita força!

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  13. Texto magnífico e tão verdade se ao menos conseguíssemos sempre a lucidez para ver nessa perspetiva!!!!
    Por vezes temos de entender que as pessoas crescem e avançam de forma diferente e que quem está agora ao nosso lado não é a mesma pessoa que amámos e que em nós também ocorreram mudanças que podem levar ao desamor...compreender isto sem culpas e sem culpar seria o ideal...ter a coragem de avançar quando não há mais remédio...também não é fácil...Mas acima de tudo é preciso não esquecer Melzinha que o que de bom, maravilhoso e mágico houve na relação no passado não desapareceu com o presente...existiu mesmo e continua a valer a pena...tão importante não esquecer...!
    Mil beijos...sei por experiência que estes momentos são às vezes por escolha momentos sós...mas sabes onde estou e que estou aqui para o que precisares...!
    Maria

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