O melhor dos dois mundos
Cresci entre a terra e o mar.
Sou filha de palavras e cabos eléctricos e neta da terra e do mar. Desde sempre que tudo se construiu à minha volta como uma grande teia que me sustinha.
Tive o privilégio de me ter sido dado algo que hoje sei ser o bem mais precioso que se pode dar a alguém - tempo!
Ao contrário de quase todos os meus amigos cresci com todas as gerações da minha pequena família à minha volta, não havia idas à terra pois não havia essa necessidade a terra era ali e vivia-se no presente.
Cresci no meio de gente da terra e do mar com raízes fortes, humildes e contrastes que hoje pautam a minha personalidade.
Tive o privilégio de brincar na rua, de ir apanhar o pinheiro de Natal à linha do comboio quando a CP os deitava abaixo, de ir às castanhas e aos pinhões ainda nas árvores, de ter amigos de duas e quatro patas que eram tudo para mim, de ter um avô "planteiro" que cheirava a terra, a vinha e a fruta.
O verbo era uma constante com paredes forradas a livros e tardes a jogar às escondidas na biblioteca municipal enquanto este avô lia o jornal do dia. Do outro lado da família cheirava a sal, peixe e marisco fresco todos os dias quando o meu avô regressava do mar e não se podia fazer barulho de manhã porque ele estava a dormir.
Vestia modelitos de boneca que ambas as avós disputavam os créditos de costureira prendada e fingia perceber do assunto enquanto "vestia" bonecas com trapos e botões de alta costura :P
Escrevo desde que sei e fotografo desde que tenho como fazê-lo. Mas no meio de palavras, martelos, trapos, terra e mar não havia tempo para os escrever ou fotografar, havia tempo para absorver em imagens e guardar memórias, para sorrir e ser feliz entre dois mundos tão diferentes e tão iguais.
Hoje tornei-me designer, não de trapos mas de ideias, não passo 1 semana sem por os pés na praia, sem cheirar a sal e apesar de não beber vinho adoro o cheiro da terra da vindima. Gostei de ter crescido a saber que o leite vem das vacas e não do pacote, deter sempre os joelhos esfolados, os vestidos rasgados e os dedos doces dos suspiros de sexta-feira à tarde.
Hoje tornei-me designer, não de trapos mas de ideias, não passo 1 semana sem por os pés na praia, sem cheirar a sal e apesar de não beber vinho adoro o cheiro da terra da vindima. Gostei de ter crescido a saber que o leite vem das vacas e não do pacote, deter sempre os joelhos esfolados, os vestidos rasgados e os dedos doces dos suspiros de sexta-feira à tarde.
Mais do que bem comportada era feliz.
Cresci entre avós e rugas de uma família envelhecida que me deixou o que sabia e podia ensinar. Deixou-me nos tempos difíceis, a importância de nos manter-mos juntos, de nos defendermos de quem nos quer mal e que a terra é a nossa maior herança física e que sob pretexto algum jamais se vende e já mais se luta com alguém que amamos por ela. Ensinou-me que dinheiro faz muita falta mas que não é tudo e por motivo algum vale a pena ir para a cama zangado com alguém. Ensinou-me que os avós não são trapos amarrotados, são baús do tesouro que nos levam pela mão até percebermos que na realidade eles é que precisam da nossa e que tudo o que guardam dentro deles é nosso se o quisermos receber, em todo o tempo que cá estão para nos dar, até deixarem de ter tempo para o fazer, até deixarem de cá estar!
Y. do blog A hora que ninguem desconfia
Que belíssima descrição da infância, e que belíssimo deve ter sido vivê-la.
ResponderEliminarBeijos, boa semana.
Na realidade foi tão bom que demorou a seleccionar o que escrever de tanta coisa boa que teve. Obrigado *
EliminarParabéns! Lindo. Emocionante.
ResponderEliminarMaravilhosas de ler as lições aprendidas.
O último paragrafo é Inesquecível!
Obrigada Y. irei visitar-te assim que possa.
Obrigada minha doce Mel pela oportunidade de ler estas palavras.
jinhooooooosssssss
Que grande honra vindo de quem escreve como tu :) sê sempre muito bem vinda!
EliminarMais um texto muito emocionante e de tão simples, tão bonito. ;)
ResponderEliminarbjs
Obrigado Maria *
EliminarE foi tudo mesmo assim, daí me tocar tanto e me trazer tantas memórias - como ver um chapelinho de palha e umas jardineiras amarelas a passear dentro de uma vala de rega ...
ResponderEliminarLindo! Muitos parabéns.
ResponderEliminarInfância é isto.. e isto é tudo o que de melhor se tem na vida!
Obrigado * fica o eco das coisas verdadeiramente boas
EliminarÉ um texto lindíssimo, de uma sensibilidade cativante e com um crescer cheio de aprendizagens. Parabéns.
ResponderEliminarBeijinho
Obrigado JP eles já cá não estão e eu ainda aprendo com eles acreditas?
EliminarTexto magnífico!!!!
ResponderEliminarBjs
Maria
Obrigado Maria
EliminarQue bonitas recordações...
ResponderEliminarObrigado nat. e felizmente são tantas
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