terça-feira, 12 de novembro de 2013

Desafio: Infância... (7)

Da minha infância

Para grande pena minha não sou recordações pormenorizadas, há momentos que me ficaram marcados para sempre, que guardo em mim, mas que na sua maioria já não sei descrever com o pormenor que gostaria. A minha infância foi feliz, só em adulta percebi o quanto. Nunca houve muito de bens materiais, mas houve muito de leveza, de liberdade, de realidade - os meus pais sempre me fizeram ver que não podia ter o que queria, mas o que a vida permitia - de amor, e é isso que eu recordo. Sentia amor, era tudo bom, as pessoas eram todas doces e davam-se bem. Pese embora eu me sentisse valentemente injustiçada e protagonizasse episódios como este.

Da minha infância livre e leve eu recordo:
A minha avó paterna, o grande marco da minha infância, as nossas deliciosas conversas sob a figueira do Paraíso, os seus deliciosos cozinhados só para mim, como aquela tigela de aletria à qual eu quis verificar a consistência e derramei no chão! O pequeno-almoço com o chá servido na caneca de morango ou na chávena das bolinhas verdes. As arrumações que eu fazia em casa dela, virava, revirava, e arrumava tudo à minha maneira. Ela deliciava-se e ainda elogiava as minhas habilidades. Os "cigarros" de vime fumados na lareira dela. Os ciúmes que a mãe tinha da avó.

Ser chamada de Câmbida pela amiga do infantário que não sabia dizer o meu nome, a Patrícia a quem eu já só recordo o nome, ela que ainda na infância emigrou e nunca mais vi.

As birras, pela manhã, na escolha da indumentária e do penteado mais adequado. Isto na altura do infantário, e que desde então nos acompanham em nostálgicas conversas, e roubam sorrisos. As calças, em tecido aos quadrados, que a mãe me fazia, e eram as minhas favoritas, a min-saia castanha, a saia de peito com cerejas. Muito vaidosa que eu era.

O desinteresse por comer, à excepção da vontade de devorar ovos estrelados com açúcar - valeu-me a alcunha de papa-ovos - e chocolates. Ser muito, muito gulosa.

O Príncipe Nicolau, colega da Primária, que todas as manhãs passava por minha casa para me acompanhar à escola, eu que morava a cerca de 20 m.

O corte curto de cabelo que a mãe insistia em manter, para fugir à praga dos piolhos, e a vontade de ter cabelos longos e caracóis.

As brincadeiras escondidas nos campos, com os meus vizinhos VIP.

A vizinha do lado, a tia Delminda (não era minha tia, mas na nossa zona havia o costume de chamar tios às pessoas de idade) uma senhora adorável nos seus 80 e alguns anos, para casa de quem eu ia brincar, e que se sentava à nossa porta a conversar.

Os almoços de domingo em casa de outra vizinha. Mal acabava a missa agarrava-me a ela para evitar que a minha mãe me proibisse de ir.

A vontade de descobrir o que guardava a minha madrinha nas suas nas gavetas.

A adoração por livros, por aprender, desde muito cedo ter começado a rabiscar os livros dos irmãos. Adorar ir para a escola.

Ser muito, mas muito "paizeira", e ficar cheia de mim quando diziam que eu era a cara do meu pai e que me tinha um carinho especial. As viagens de comboio em que ele me acompanhou, e tantas vezes me carregou ao colo, atá às consultas de oftalmologia no Hospital de S.to António.

O momento antes da anestesia fazer efeito à entrada do bloco cirúrgico para corrigir o estrabismo. O andar com a venda no olho à Camões.

O mau-feitio marcado, o fugir a rir quando a minha mãe me limpava o pó após eu ter feito asneiras. O ciúmes dos manos, bem mais velhos a quem ela dava muito mais liberdade, eu era uma incompreendida. :P

As brincadeiras de servir refeições onde o prato principal eram sempre os bolos de terra.

A noite de consoada em que se jogava ao par e ao pernão em família. A manhã de Natal e a busca do presente na meia. As noites seguintes à de consoada quando pela madrugada a mana me incumbia de ir buscar um prato de doces para comermos na cama.

Ser a Teca.

da minha Canca do blog Partilhar é bom!

3 comentários:

  1. E as memórias são tão mas tão precisosas..adorei!
    Bjs
    maria

    ResponderEliminar
  2. A infância é a base fundamental para nossa "adultisse", amei os relatos e peço à amiga Mel desculpas por não poder ter enviado meu texto, pois as tarefas diárias estão acirradas ultimamente em minha vida. final de ano letivo e muito pouco tempo para interagir com os amigos da blogosfera. Mas agradeço o carinho e desejo sucesso aos concorrentes.
    Um beijão, Mel! linda semana!

    ResponderEliminar
  3. Gosto tanto. Claramente uma pessoa feliz.

    ResponderEliminar